domingo, 6 de dezembro de 2009

Mente Cartesiana

''Ainda que não possa afirmar ao certo o que despertou o meu interesse pelos fundamentos neurais da razão,recordo-me claramente de quando me convenci de que a perspectiva tradicional sobre a natureza da racionalidade não poderia estar correta. Fui advertido, desde muito cedo, de que decisões sensatas provêm de uma cabeça fria e de que emoções e razão se misturam tanto quanta a água e o azeite. Cresci habituado a aceitar que os mecanismos da razão existiam numa região separada da mente onde as emoções não estavam autorizadas a penetrar e, quando pensava no cérebro subjacente a essa mente, assumia a existência de sistemas neurológicos diferentes para a razão e para a emoção. Essa era,então, uma perspectiva largamente difundida acerca da relação entre razão e emoção,tanto em termos mentais como em termos neurológicos.
Tinha agora,porém,diante de mim,o ser inteligente mais frio e menos emotivo que se podia imaginar e,apesar disso, o seu raciocínio prático encontrava-se tão prejudicado que produzia , nas andanças da vida cotidiana, erros sucessivos numa contínua violação do que o leitor e eu consideraríamos ser socialmente adequado e pessoalmente vantajoso. Ele tivera uma mente completamente saudável até ser afetado por uma doença neurológica que danificou um setor específico do seu cérebro, originando,de um dia para o outro, essa profunda deficiência na sua capacidade de decisão. Os instrumentos habitualmente considerados necessários e suficientes para um comportamento racional encontravam-se intactos. Ele possuía o conhecimento,a atenção e a memória indispensáveis para tal; a sua linguagem era impecável; conseguia executar cálculos; podia lidar com a lógica de um problema abstrato. Apenas um outro defeito se aliava à sua deficiência de decisão: uma pronunciada alteração na capacidade de sentir emoções. Razão embotada e sentimentos deficientes surgiam a par, como consequências de uma lesão cerebral específica, e essa correlação foi para mim bastante sugestiva de que a emoção era um componente integral da maquinaria da razão. Duas décadas de trabalho clínico e experimental com muitos doentes neurológicos permitiram-me repetir inúmeras vezes essa observação e transformar uma pista numa hipótese testável (...).''
Antônio Damásio-''O erro de Descartes''

''Sentir com inteligência, pensar com emoção... ''

2 comentários:

  1. Penso o mesmo!

    sentir com inteligencia, pensar com emoçao!

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  2. mais um post de Andyara que diz a verdade, nao se pode separar razão e emoção... e essa frase final sintetiza muito bem o texto.
    está de parabens novamente!

    beijaoo

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