domingo, 21 de março de 2010

Fracassamos

Nosso tamanho nos torna megalomaníacos natos. Não sabemos pensar no Brasil a não ser em superlativos. Somos amazônicos tanto nas nossas vaidades quanto nos nossos remorsos. Assim, a Arena, o braço desarmado do poder militar, podia dizer que era o maior partido do mundo porque, em números, era mesmo,tantos foram os políticos que a integraram naquela democracia de faz- de-conta. Outra maneira de dizer a mesma coisa seria nos chamados de a maior sabujocracia do mundo, embora nem todos do grande partido fossem servis aos militares. Muitos fizeram respeitáveis carreiras no partido oficial, e ,se foram cúmplices na farsa, o MDB, a seu modo, também foi. Depois,com o fim do regime militar, o voto obrigatório nos autorizou a dizer que éramos, em proporção à população, a maior democracia de verdade em funcionamento no mundo. E o que sentimos ao descrever nossas mazelas gigantescas só pode ser descrito como orgulho desvairado,quase uma forma de unfanismo. Nenhum outro país é tão corrupto quanto o nosso. E estamos sempre superando nossas próprias marcas. O escândalo do mensalão era o maior de todos os tempos. Agora o escândalo das sanguessugas é maior do que o escândalo do mensalão. Eta nóis!
Não quero desiludir ninguém, mas eu estava lendo uma matéria no New York Times sobre superfaturamentos,custos fictícios e outras falcatruas de empresas americanas contratadas para reconstruir o Iraque, e à medida que lia, minha megalomania murchava. Até nisso eles nos humilham.Não era só o volume de dinheiro desviado,muito maior do que em qualquer concebível escândalo brasileiro. A Bechtel, a Halliburton, ligada ao vice presidente Dick Cheney, e outras empresas americanas ganharam, com exclusividade( "Nossa sujeira limpamos nós" é o lema implícito) e sem licitação, os contratos para reparar os estragos feito pelo outro lado do complexo de indústrias e serviços subsidiado pelo Pentágono, e que também tem uma longa história de enganar seu contratante. Mesmo com os bilhões de dólares gastos e roubados, e alguns anos depois da queda do Saddan,ainda não conseguiram reestabelecer completamente a eletricidade no país. O Times cita como exemplo da roubalheira da reconstrução de um hospital para crianças em Basra. O prazo já venceu, o custo já se multiplicou várias vezes e o hospital continua inacabado.
E o pior para o nosso ego é que, com tudo isso, você não ouve os americanos dizerem que são os mais corruptos do mundo. Ainda por cima nos arrasam com sua modéstia.
- Veríssimo

* Salve-se quem puder!

sábado, 20 de março de 2010

Inquilinos

"É verdade que, mesmo sob o atual regime impessoal, o mundo apresenta falhas na distribuição dos seus benefícios, favorecendo alguns andares do prédio metafórico e martirizando outros, tudo devido ao que só pode ser chamado de incompetência administrativa. Mas a responsabilidade não é nossa. A infra-estrutura já estava pronta quando chegamos. Apesar de tentativas como a construção de grandes obras que afetam o clima e redistribuem as águas, há pouco que podemos fazer para alterar as regras do seu funcionamento.
Podemos,isto sim, é colaborar na manutenção da Terra. Todos os argumentos conservacionistas e ambientalistas teriam mais força se conseguissem nos convencer de que somos inquilinos no mundo. E que temos as mesmas obrigações de qualquer inquilino, inclusive a de prestar contas por cada arranhão no fim do contrato. A escatologia cristã deveria substituir o Salvador que virá pela segunda vez para nos julgar por um Proprietário que chegará para retomar seu imóvel. E o juízo Final, um cuidadoso inventário em que todos os estragos que fizemos no mundo seriam contabilizados e cobrados.

_ Cadê a floresta que estava aqui?- Perguntaria o Porpietário.
_ Valia uma fortuna


E:

_ Este rio não está como eu deixei...

E, depois de uma contagem minuciosa:

_Estão faltando cento e dezessete espécies.

A humanidade poderia negociar. Apontar as benfeitorias -monumentos,parques, áreas férteis onde outrora existiam desertos- para compensar a devastação. O proprietário não se impressionaria.

_Para que eu quero o Taj Mahal? Sete Quedas era muito mais bonita.
_E a catedral de Chartres? Fomos nós que construímos. Aumento o valor do terreno em...

_Fique com todas as suas catedrais,represas , cidades e shoppings, quero o mundo como eu o entreguei. "



* Não precisamos de uma mentalidade ecológica. Precisamos de uma mentalidade de locatários. E do terror da indenização.

quarta-feira, 17 de março de 2010

' Paranóias de lado, é como um complô para que a gente mergulhe num fazer neurótico de coisas, ansiosamente, sem tempo para nós mesmos e as nossas ficções. Para que a gente desista, todos os dias. Você sabe que não devemos, que não podemos e, principalmente, que não queremos. Eu não sei se um dia as coisas realmente mudarão mas procuro, em tudo que escrevo (que é o meu jeito de agir sobre o mundo) colaborar de alguma maneira para que essa mudança venha. Você sabe, estou saindo de um momento muito escuro, então tenho procurado não deixar que as minhas dores pessoais – do meu ponto de vista: enormes – interfiram no meu viver objetivo.'

domingo, 7 de março de 2010

Bem mais que alegria às 6:30

Pareço contigo
Normal e do avesso
Vamos seguir o caminho seguro
Pra continuarmos assim no futuro
(...)
Eu dou um valor absurdo na vida
Ela me traz bem mais que alegria
Traz alguém pro meu sozinho
Você às 6h30

(Seis e Trinta - Jota Quest)